sábado, 27 de agosto de 2011



Juros reduz crédito de cartão

BRASÍLIA

As medidas mocroprudenciais e a alta do juro conseguiram reduzir a expansão do crédito. A desaceleração acontece basicamente nas operações que os bancos podem fazer livremente, em especial nas modalidades mais caras, como cheque especial e cartão de crédito. Nos empréstimos direcionados, como o habitacional e do BNDES, porém, o ritmo segue forte.
Enquanto as operações livres cresceram 0,7% em julho, os financiamentos com destinação específica avançaram 1,9%. O primeiro grupo tem vivenciado um processo de alta na taxa de juros, que em julho chegou, na média geral, a 39,7% ao ano. O crédito direcionado trabalha com taxas mais baixas e subsidiadas pelo governo. Exemplo claro do encarecimento do crédito livre é o cheque especial, cuja taxa de juro alcançou 188% ao ano, o maior patamar em mais de 12 anos.
Alheio às medidas do governo para desacelerar o crédito, os empréstimos direcionados - normalmente operados por bancos públicos - seguem em firme expansão. Dados do Banco Central divulgados ontem mostram que o avanço de 1,9% dessas operações em julho foi o mais elevado de 2011, superior à média mensal de 1,2% vista de janeiro a junho. Em 12 meses, essas operações cresceram R$ 104,6 bilhões, o equivalente a uma alta de 23,6%.

O crédito para a compra da casa própria - segmento dominado pela Caixa Econômica Federal - liderou o movimento, com expansão de 3,5% apenas em julho. Atualmente, o estoque de dívida imobiliária é de R$ 173,3 bilhões. Outro destaque é o BNDES, cujos créditos em julho avançaram 1,7%.
"Os dados mostram uma aposta do governo para reduzir os efeitos da crise", afirma o professor de finanças do Insper, Ricardo José de Almeida. "De um lado, bancos públicos aceleram o crédito para empresas para tentar afastar problemas como demissões. Por outro, o imobiliário não pode parar agora porque construtoras estão entregando imóveis que foram vendidos há dois anos, durante boom do mercado nas grandes cidades", diz.
Para ele, o reforço do crédito direcionado "parece interessante" enquanto espera-se definição da crise internacional. Ao mesmo tempo, Almeida apoia a redução de ritmo nas operações voltadas ao consumo. Para ele, a inflação mais elevada dos últimos meses exige uma ação coordenada para conter a demanda.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, destacou que o crédito segue crescendo, mas com ritmo mais moderado. "A moderação vem em linha com a expectativa do BC após as medidas prudenciais e a mudança na política de juros", disse.
O economista Adriano Lopes, do Banco Itaú, ressalta em relatório para clientes que, com a desaceleração recente, "o patamar das concessões de crédito à pessoa física finalmente aproximou-se do nível de novembro de 2010, mês imediatamente anterior à primeira rodada de medidas macroprudenciais".
Além de emprestar menos, bancos estão cobrando mais. O encarecimento aconteceu sobretudo no cheque especial. O preço do dinheiro pré-aprovado aumentou 3,3 pontos em 30 dias e atingiu a taxa mais elevada desde abril de 1999. Isso quer dizer que se um cliente estiver com a conta negativa em R$ 1.000 hoje e permanecer no vermelho por 365 dias deverá R$ 2.880.
"Esse juro tem mostrado esse comportamento de alta há alguns meses e reflete o perfil do cliente. O cheque especial é uma operação que oferece taxas diferenciadas conforme o tomador", explicou Maciel, ao citar a entrada de novos clientes com um perfil de risco mais elevado no sistema.
Movimento idêntico foi visto no segmento empresarial. O cheque especial das empresas, chamado de conta garantida, saltou 5,5 pontos em apenas um mês até os 111,7% anuais, o maior patamar em mais de 15 anos, desde março de 1996.

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